Ruy Belo e Chico Buarque vão encontrar-se finalmente. O poeta português admirava o músico e escritor brasileiro, que não chegou a conhecer. Conta Teresa Belo, sua mulher, ao jornal O Globo, que o autor de Homem de Palavra(s) encomendava muitos vinis do cantor aos amigos que viajavam para o Brasil.
Belo interessava-se muito
por nomes da literatura brasileira como Carlos Drummond de Andrade,
Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, mas Chico Buarque era Chico
Buarque. “Ficava muito comovido com as canções e admirava a postura
política dele”, lembra Teresa Belo.
Agora, o cantor e compositor,
um dos mais populares da música brasileira, é um dos convidados de um
documentário sobre o poeta português que será lançado no Brasil até ao
fim do ano. Vai ler dois dos seus poemas, Orla marítima e Oh as casas as casas as casas. O documentário Ruy Belo, era uma vez,
de Nuno Costa Santos, reúne críticos e escritores dos dois lados do
Atlântico à volta deste homem que sempre cruzou a poesia com a política
ou a espiritualidade e que viria a morrer em 1978, aos 45 anos, deixando
versos como estes: “É triste ir pela vida como quem/ regressa e entrar
humildemente por engano pela morte dentro”.
Ver mais em: http://www.publico.pt/n1600821
Deixamos aqui o poema "Ode Marítima" (referido na notícia) e sugerimos que conheça ou revisite a obra de Rui Belo existente na Biblioteca Municipal
ORLA MARÍTIMA
O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo das avenidas
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quando tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
«Mudança possui tudo»? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
Gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida
Ruy Belo
O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo das avenidas
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quando tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
«Mudança possui tudo»? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
Gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida
Ruy Belo