Fernando Pessoa, poeta maior da língua portuguesa, morreu no Hospital de São Luís dos Franceses, a 30 de novembro de 1935. Oitenta anos depois, com a Cimeira do Clima a decorrer em Paris, o Expresso recorda nove excertos poéticos de Alberto Caeiro, o heterónimo que mais louvou a natureza.
Pessoa,
poeta imortal, atravessa oceanos. Mas o seu corpo partiu há 80 anos, a
30 de novembro de 1935. O poeta e os seus heterónimos permanecem atuais.
Em plena Cimeira do Clima - que termina em Paris no próximo dia 11 - o Expresso
recorda a forma como Alberto Caeiro, o bucólico heterónimo canta a
natureza, o “correr dos rios”, o “murmúrio das árvores”, as “grandes
montanhas” e as “cousas cheias de calor”.
Aqui vos deixamos nove excertos de Alberto Caeiro, a mais simples e naturalista das ‘criaturas’ de Pessoa.
“Aquela Senhora tem um Piano”
“Aquela senhora tem um piano
Que é agradável mas não é o correr dos rios
Nem o murmúrio que as árvores fazem ...
Para que é preciso ter um piano?
O melhor é ter ouvidos
E amar a Natureza”
“Há Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada”
“Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos”
“O Meu Olhar”
“Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama”
“Talvez quem vê bem não sirva para sentir”
“Como o campo é grande e o amor pequeno!
Olho, e esqueço, como o mundo enterra e as árvores se despem”
“Deste Modo ou Daquele Modo”
“E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada”
“Li Hoje”
“Por mim, escrevo a prosa dos meus versos
E fico contente,
Porque sei que compreendo a Natureza por fora;
E não a compreendo por dentro Porque a Natureza não tem dentro;
Senão não era a Natureza.”
“O pastor amoroso perdeu o cajado”
“Os grandes vales cheios dos mesmos vários verdes de sempre,
As grandes montanhas longe, mais reais que qualquer sentimento,
A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem,
E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor, uma liberdade no peito”
“Num Dia de Verão”
“Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo... ”
“Há Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada”
“Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas”
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