terça-feira, 14 de agosto de 2018

“A VARANDA DE JULIETA” DE NUNO JÚDICE





Uma vez, entrei em verona para não entrar
em veneza. Entre o vê de verona e o vê
de veneza optei por ver verona. Gostei da
coincidência das consoantes na janela
de julieta; e sei que em veneza não ouviria
o vento da vingança, nem provaria o veneno
de uma volúpia que só em verona se
desvanece com a vida. Não há canais em
verona, como em veneza; nem há janelas
em veneza, como em verona; mas julieta
espreita a rua, da janela que é sua, e se
ninguém diz a senha que só ela sabe, agita
o lenço molhado pelas lágrimas que as
nuvens bebem, levando-as de verona até
veneza, onde a chuva as deita nos canais.


Júdice, Nuno - A pura inscrição do Amor. 1ª ed. Alfragide : Dom Quixote , 2018. , 143 p. ; 21 cm. 978-972-20-6405-7. p. 26