Um cravo vermelho, cristal de vida no céu de chumbo, cada dia um mundo limpo e perfumado,
graças a ti flor da minha idade.
Caminho da esperança às portas da cidade, todo o mel e todos os frutos ali à mão.
Graças a ti cravo vermelho que venceste a solidão, veio o tempo ao nosso encontro e a manhã
despertou agitando as árvores.
E a noite se fez de estrelas que desceram aos cantos do jardim.
Um cravo vermelho e quente, mais que tudo amando a vida em qualquer língua entendida.
O mundo tinha o sabor de uma maçã, e os olhos inacabados eram cravos vermelhos.
Não havia cárceres nem torturas, apenas o calor de uma fogueira na praça do entusiasmo, e
uma jovem mulher dormindo um sono de criança nos telhados da revolução.
O seu rosto era uma nuvem dourada pelo sol e pela lua, os cabelos trigueiros uma seara e nos lábios a canção de Abril que encheu a rua.
Adão Cruz (1937- )
(médico cardiologista, poeta, pintor)